29 de dez. de 2006

Hoje fui ao sebo procurar "O amor nos tempos do cólera", do Gabriel Garcia Márquez. Ainda que não soubesse a história, esse título brotou na minha cabeça. "Os livros escolhem seus leitores". Nunca mais vou me esquecer disso.
Não achei o livro e o vendedor me perguntou se eu gostava de Sidney Sheldon e Agatha Christie. Essas pequenas frustrações do dia-a-dia me matam um pouco de cada vez.
Ah, mas fiz algo grandioso. Joguei fora a materialização dos meus quatro anos de faculdade. Todas as xérox, folhas de fichário, pastas, provas, trabalhos. Joguei fora parte das minhas lembranças que já nem eram lembradas. Aliviei minha escrivaninha pra outros tantos papéis que serão jogados fora daqui há seis anos. Me desprendi de algo que não sinto falta. Um tempo meio triste e cinzento da minha vida. Me lembro de chorar muito. Me lembro de ser maltratada no trabalho, de levar muito tempo pra chegar em casa, e de chegar depois da meia noite. Mas lembro também dos amigos, que hoje só restam poucos, bem poucos. Dá pra contar em dois dedos, talvez um. Sim: um dedo. Esse é o retrato do que restou.
Mas teve uns textos que não tive coragem de deixar partir. Falam sobre inteligência artificial. "Podem as máquinas pensar?" Na época essa pergunta mexeu comigo. Hoje me pergunto se pode um ser humano não pensar. Tenho acreditado cada vez mais que sim.
Preguiça de tirar as fotos da máquina. Mais ainda de gravar no CD e mandar revelar. Preguiça de levar os cachorros pra passear, comprar coisas saudáveis pra almoçar. Nessa época do ano tudo é difícil e cada segundo pede ser bem aproveitado com total estado de inércia: permanecer, não se mover, só respirar.
Aproveito para ver as novas, ler um pouco, me divertir com as desgraças alheias, rir um pouco das minhas também. No fundo tudo é divertido.
Comecei a ler o livro que o Tanga me deu de aniversário: A imperatriz Orquídea. Fala sobre uma das dinastias da China. Passa-se (ou passam-se) centenas de anos, e algumas coisas só perdem o requinte. Continua tudo sendo um mar de orgulho e ostentação. Depois me perguntam por que eu não sou feliz. Oras! Porque o ser humano é um bicho imundo. Por isso.

22 de dez. de 2006

O Habib´s 24h da Ipiranga lavou hoje a calçada não com cândida, mas com o gozo de mil homens.
Sobre ontem...

... obrigada a todos que, de maneira sincera, me desejaram felicidades. Todos que ligaram, me deram um presente ou um sorriso. Cada um deve saber o quanto fiquei feliz, e meu sentimento eterno de amizade.

Rô, obrigada por ter me dado um pedacinho da sua história...

19 de dez. de 2006

Ah, e vai dizer que felicidade não é isso?!:

-tomar sorvete de coco
-ficar descalça no meio do trabalho
-rir, abraçar, cutucar, encher o saco de quem senta do lado
-não fazer nada o dia inteiro, pelo menos uma vez nos últimos meses

-comer ambrosia e cereja no almoço
-se olhar no reflexo do monitor e ver a si mesmo, rosto lavado e tranqüilidade no coração

Hoje eu nem precisava de mais nada. Só essas coisinhas já bastavam. Mas ainda tem mais, muito mais: é só remexer no lixo que vem mais motivo pra sorrir! É tããão divertido... Descobrir-se ratoux!
Je suis un petit ratoux.
Acordei hoje com uma felicidade súbita. Sensação de que joguei uma pá de cal sobre um defunto ainda vivo. Sei que não sou tão superior para matá-lo de vez, mas também não guardo rancor, para deixá-lo vivo. Deixo-o ali, longe dos olhos, mas com a sepultura à vista. No giro 360º, muito rapidamente, paro nela meu olhar. Mas há outros muitos graus para olhar, é o que importa. Talvez coloque uma violeta sobre sua grama. Troque as flores já murchas e amareladas. Talvez converse com ele e chore desesperadamente. Chorar sobre defunto vivo, é ruim. Mas é assim que eu sou: como se nada tivesse acontecido, como se não tivessem me contaminado com um vírus lento e doloroso que aos poucos corrói tudo de bom que tenho por dentro.
Tomo anti-depressivos. Tomo antibióticos. Tomo anti-realidade em cápsulas grandes, à seco. Analgésicos. Sei que uma hora vão perder o efeito, mas até lá, espero já ter crescido, e não mais precisar deles.

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Uma das coisas que mais me deixa feliz no mundo é o começo da música "Chove Chuva", do Biquíni Cavadão. É assim:
eh, eh, eh, eh
oh, oh, oh, oh
eh, eh, eh, eh, eh, eh, eh, eh (3x)

Eh, eh, eh, eh
Oh, oh, oh, oh
Eh, eh, eh, eh

Parece tolo, mas eu recomendo para quem tiver perdido as esperanças. Comigo, funciona!

14 de dez. de 2006

Como é ruim guardar a angústia, alimentar a raiva. Como dói a injustiça e como é triste abandonar um sonho.

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Relembrando o passado, alguns escritos soam tão bregas, tão fórmula pronta, junta, cola, tá pronto.
A gente muda e nem se dá conta.

Tão pequena e já sei foi
pra longe, inda ouço chamar
"Cananga"
Nas marcas, cicatrizes, coração.


13 de dez. de 2006

Nos sonhos algo sempre se revela. Fundem-se passado e presente num piscar de olhos, num abraço, num sorriso. Personagens ainda não conhecidos chegam e já são próximos. Age-se de maneira imprópria, faz-se o que não se faz. Recorrência a outros sonhos, lugares já imaginados mas ainda não vividos. Existem de fato? Num terminal no Rio de Janeiro, saindo do Morro Grande? Improvável, mas naquele ponto o Sol sempre brilha no mesmo tom, então só pode ser RJ. Na sala de aula, na PUC, primeiro ano, um filme sobre algo que não prestei atenção. Conversas paralelas, ida ao Ibirapuera. Depois, a volta pra casa. Cutucar as feridas, pisar, alfinetar com agulha de acupuntura - se sente. O acordar sempre penoso, resto de angústia pela consciência maltratada. Resto de algum fluido não incolor, que já tingiu pra sempre desta sensação estranha e incompreensível que se chama sonho.

6 de dez. de 2006

Machado já disse tudo

O centro hoje estava especialmente decadente. O círculo laranja ao fundo rosado, não se concretizou.

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Nada de novo. Só lamentos renovados, passados a limpo com letra de sempre. No quase fechamento, ainda aberta a ferida do desleixo e da indiferença. Marca seca deste tempo. No peito, as palavras remoídas, soltas. Solução perigosa de indignação e lágrima. Pesa o sentimento, definha. Na janela as flores já não florem. Dizem que planta sente. Já não há dúvida.

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Por que bonita se coxa? Por que coxa, se bonita?

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...