27 de out. de 2010

Me incomoda menos as orelhas das revistas. Incomoda mais as marcas nas páginas dos dias, lembrando que ali houve um dano talvez irreparável.

20 de out. de 2010

Freud, MissPlic:

- O Serra, na figura do meu tio mais velho, queria privatizar a casa da minha avó e vendê-la para um cara que iria construir um mercadinho no lugar. Eu disse: "Vó, eu não vou deixar derrubarem sua casa e construírem um mercado nem f. Vão ter que passar por cima de 40 cadáveres meus."
- Era tutora de um menino humilde na escola e ensinava PowerPoint pra ele. O menino mau da escola o intimidou pra que ele o ensinasse também.
- Minha tia limpou o guarda-roupa e perguntou se eu queria ficar com algumas blusas. Quando entrei no poço da minha avó, havia montanhas de panos de chão velhos e outras tantas peças cortadas empilhadas, prontas para serem costuradas.
- Uma adolescente da escola do menino humilde olha pra mim e diz: "Acho que você me beijaria". Eu agarro a menina e dou um beijo cinematográfico.

Tudo em tão curto espaço de tempo.

16 de out. de 2010

Achei por bem trocar as toalhas do criado mudo e da mesa de centro. Crochê branco para um. Fuxicos tons vermelhos para a outra. Guardei os enfeites de roxo que não se davam com o vermelho. Fervi água para um chá verde. Me senti como se precisasse de uma companhia imóvel. Abri o guarda-roupa de brinquedos. Olhei uma a uma as bonecas ansiosas. Relutei mas não tive escolha. Margarida Gautier me acompanhará mais um dia. Da minha imensa janela vejo toda uma face. Nordeste. Passa o longo fura-fila amarelo, que aprendi a gostar. Uma paisagem feia que de tão grandiosa traz um não-sei-o-quê de também grandioso, e fica bela também. Olho para a varanda e imagino projetos. Árvores, bancos, até um riozinho podia ter. Eu queria deitar na grama da minha varanda e ouvir os pássaros, mas eles bateriam nos vidros semi-zonzos. Queria calar as buzinas e motores. Queria a brisa fria. Mas vou tomar meu chá e cuidar de Gautier. Antes, vou pendurar um passarinho no lustre.

15 de out. de 2010

não tenho sangue assim ou assado. nem sangue tenho. tubos vazios que vez ou outra enchem-se de ódio

12 de out. de 2010

Nos últimos quatro dias mal me vi. Me vi, sim, no reflexo do monitor, um eu desfigurado, perdido. Bloqueio, ansiedade, desespero. Nos últimos muitos dias, não houve espaço para um pensamento vazio. Não houve um descanso dentro dos tantos minutos que habitam o dia. Estou cansada para uma vida.

4 de out. de 2010

Não gostava de azul. Agora, me incomoda o verde puro dos objetos todos ao meu redor. E nas roupas. Volto depois de muito ao local indefinido do roxo-violeta-vinho. Vermelho jamais. Passeios pelas cores e trajetos marcados de cinzas.

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...