11 de dez. de 2011

pra saber quem sou, revirem-me os livros, as voltas da escola, os pensamentos todos. voltem a fita que passava no espelho, as horas perdidas em frente. as desilusões, as ilusões. revirem as ilusões. e toda a dor de quem sofria aos trinta o que ainda eram os 13 aos 18.
eu pensei que, contrariando todas as expectativas e piores sonhos, poderia ser feliz. pensei que a felicidade saindo dos poros pudesse durar pra sempre, pudesse ser real. que importam os problemas do mundo, as desigualdades, os salários, a baixeza deles. que importa? importava mais não. porque pensei que, contrariando tudo que até então havia, seria, enfim, feliz. eu fui. fui, fui, e me perdi. e o não ter o que mais desejar se transformou em choros abafados no banheiro, imagens nunca vistas recriadas na memória. muito, muito sofrimento. tudo guardado o mais fundo possível, alheio aos olhos superficiais. lá, escondidos, fizerem o que bem quiseram. e tanto fizeram, que acharam a tal felicidade. despedaçaram-na. voltei a ser eu. às vezes, me deixo voltar a pensar, que poderia ser feliz.

30 de nov. de 2011


a beleza da v. está na simplicidade
nas variações de mesma cor
nas combinações sempre-as-mesmas que vez ou outra ela se permite arriscar
hoje, estampou-se de inusitado

27 de nov. de 2011

29 de set. de 2011

Síndrome do braço gordinho.
Álvaro de Campos já o tinha.

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.

25 de set. de 2011

Uma chuva muito fina passa na janela. Algumas ficam. Nos apartamentos vizinhos é tudo solidão. A ausência da cortina me deixa exposta minhas mais profundas fraquezas. O coqueiro que balança ao vento não tem escolha. É ficar e amortecer. O vento. O mesmo que traz a chuva muito fina, leva parte da vida, sem escolha. Sem escolha.

24 de set. de 2011

É preciso que haja alguma consistência entre o que se diz, entre o que se diz pensar e o que se faz.

10 de set. de 2011

na parede de florais estampas, de azul ao fundo, daquele meio verde, algo de grande frente ao aparador, que tem bacia e jarro de porcelana ou estanho. por que não margaridas? ao lado, talheres cobre-esverdeados, descobertos. e um retrato sépia emoldurado no tempo. sem tempo, ainda tem cor, distorcida no bisotê do espelho.

31 de jul. de 2011

queria fechar os olhos e nunca ter sido
os vizinhos assam carne sem parar. tento não ouvir o passar do ar que pouco carrega. tento não me deixar ir junto ao ar pouco carregado, carregado de pesar.
"Quando você me olhou daquele jeito que só você olhava, um passarinho voou baixinho, deixou pra trás tudo que acreditava."
"Hoje eu acordei livre, não devo nada a ninguém. Não há NADA que me prenda aqui."
Confinamento
3    ato ou efeito de isolar(-se) em dado lugar

24 de jul. de 2011

Acordei. Café. TV. Almoço. Unha. Roupa. Jardim. Louça. Casa. Costura. Café. Estudo. Janta. Desabafo.

- Acordado? O dia será servido!

Subserviência.
Homens e mulheres. A questão do gênero. Alguns, terão sempre alguém a perceber que é chegada a hora do jantar. Alguém pra sumir as sobras, as manchas, as migalhas. Terão sempre mãos ágeis a catar, a guardar, a ordenar. Alguns, jamais sofrerão a dor da solidão, o peso da obrigação velada. Sequer saberão. Algumas desejarão eternamente, de volta, suas mães.

Elas desejarão ainda a surpresa do café preparado, da mesa posta no voltar pra casa, nada pelo chão. Elas desejarão eternamente, de volta, não só a pessoa de, mas a atenção de suas mães. 

Serão elas, mães. Sem filhos, mães.
Hoje, em casa...


Alpistes felizes

Cuidado, Sakura!

Falta o João!

22 de jul. de 2011

Abri a janela para deixar entrar o ar. Entrou um imenso ser que voa, e que agora se debate entre a fresta e o veneno que o consome. Abri a janela para deixar entrar vida. E participo da morte lenta que também entrou pela janela. A janela não é metáfora. É física.

16 de jul. de 2011

me reflito em flores, fortes, grandes, flores fortes não porque grandes, mas porque intensas, com um quê de esmaecido, um quê de esquecido, um quê de deixado pra trás.
me reflito não em preto, meu conforto, mas em formas. flores enformadas pra se darem ao tempo, ao deleite, ao desatento.
me reflito como quem se pinta, vejo o que quero ver. uma tristeza tão bonita, não tão jovem ainda, mas tantos erros a cometer.
me reflito na pena, do esperar. De novo o mesmo esperar? Por que ainda espera? E por quem?
Reflito.
A lente não deixa ver bem de perto. Faz pensar o ato de ver, que não deveria ser. Deveríamos poder ver sem pensar no ver. Viver sem pensar no viver. Apenas seguir adiante. Mas a lente, de perto, não deixa ver bem. Ela lembra que há um intruso entre o que sou e a vida. Que há um intruso a modificar, a tipificar, a categorizar o olhar sobre o mundo como "não bom". Talvez seja até bom. Talvez possa vir a ser. A lente deixa ver bem de longe. Saem os anteparos e já nem penso. Pensar é trazer pra perto. E a lente não deixa ver bem de perto. O longe? Melhor não pensar.

14 de jul. de 2011

do lado de cá da janela que pisca, muitos cenários já trocaram. do lado de dentro onde o coração bate, o sentimento já trocou.

9 de jul. de 2011

Dia de guerras internas, de partículas suspensas, fios entrelaçados, graus não noventa. Hoje tudo vai contra. E como eu preciso de lexapro.

8 de jul. de 2011

Todos os dias passo por um porquinho. São dois. E já vejo a Heleninha montando no porquinho, contando-lhe histórias, mordiscando suas orelhas (as do porquinho). Pensei que se ganhasse na Mega-Sena, seria a primeira coisa que compraria: um lindo porquinho de couro verde-escuro!



24 de jun. de 2011

13 de jun. de 2011

5 de jun. de 2011

Cedo já no tanque, aproveitar o sol. Feijão escolhido, já de molho direto pra panela. Pano na casa, nos móveis que só fazem enegrecer. Cata tudo pela casa, estende a roupa. Põe branca de molho, prende o botão. Apaga o fogo. Estende a roupa, sai pra feira. Volta calada. Na mão. Peso cheio. Os calos nas mãos e na vida. Bate e volta. Endureceu. Essa não sou eu. Só meus calos são.

1 de jun. de 2011

a lágrima chorada para dentro não tem quem a seque, não tem o que a evapore, não tem o que a repouse. fica e junta-se aos poucos, aos poucos, aos nem tão poucos, aos já demais para ficar. a lágrima chorada para dentro parece que não existe. parece. a lágrima chorada para dentro não rola para perto do coração. talvez por isso solidifique. fosse uma pedra. que de pesada, deixa rolar de uma só vez toda a indignação.

22 de mai. de 2011

Pela segunda vez morri, desta vez, não até o fim. Foi uma bomba atômica (construção tão infeliz para uma poesia qualquer), e seus tons amarelo-rubro-amarronzados. O som foi o primeiro que cessou. Como uma descida rápida ao fundo do mar. O aumento crescente da consciência do ato e a conclusão de que tudo acaba ali: naquela solidão quieta, sem plateia ou perdão, sem tempo para lembranças. Foi somente o fim. E a percepção de que existir ou deixar de, não faria a menor diferença.
Cada palavra escolhida, cada construção linguística, cada ordem, todo o estilo. São remanescências tantas que influenciam aquilo que somos, aquilo que expressamos, aquilo que damos a parecer. "Pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza", "É como amar uma mulher só linda: e daí?", "É preciso alguma coisa que chora". Vinícius era tão sábio além de machista. Porque escrever é uma arte, é um dom. E há quem passe pela vida sem sequer dar conta...
Parece que os antepassados se comunicam pelo vento. O canal são as janelas entreabertas, pequenas fendas, que sintonizam as vozes que dizem o que quiser ouvir aqueles que lavam louça e devaneiam sobre o sentido da vida.

9 de mai. de 2011

Perdi hoje unidades de sobremesa que sequer chegaram a ser servidas. Por isso, amanhã usarei a melhor roupa, com os melhores brincos. Colocarei os sapatos para datas especiais e o perfume mais caro. Porque a prateleira da vida pode despencar, e levar tudo abaixo novamente.

10 de abr. de 2011

É tão feia a vista da minha janela. De fora, é tão triste a vista da minha varanda. O olhar transforma. Quando a brisa toca em delicado os móveis a sorrir.

1 de abr. de 2011

Passo pela vida mais observando do que fazendo parte. Mais planejando do que executando. E já me é suficiente. Pensar as coisas que gostaria de ter, ser e fazer ocupa parte da cena que gasto no descanso. Quando vejo as meninas quero-as todas. Quando vejo as coleções, as louças, os livros, os perfumes. Quero-os todos para agora e para algum dia ainda longe. E é como se já os tivesse ao meu alcance, porque posso tocá-los com a memória de uma lembrança que de tão pura, se torna fato para as lembranças futuras.

6 de mar. de 2011

Não acho que ficarei feliz quando, num futuro não tão distante, fizer três downloads de livros. Mas estou radiante com a espera dos três volumes que comprei nesse fim de semana. É uma questão de alma.

2 de mar. de 2011

não sei jogar ou articular o que não é sincero. chamem de inocência. ou do que quiserem. a tristeza é pelo real do homem. prisioneiro de si mesmo. ilusionista da própria vida.

19 de fev. de 2011

Deixo com vocês parte de mim representada, e que também representa um tempo. Tem em si a força das gerações, do esforço e dedicação ao próximo. Deixo com vocês o peso para mantê-los firmes, imersos. Submersos. Naquilo que um dia pareceu óbvio e pode vir a não ser. Naquilo que pareceu perfeito e pode vir a parecer um erro. Deixo com vocês parte dos meus votos e das minhas esperanças. De que possa haver ainda felicidade a dois.

16 de fev. de 2011

Será mesmo que alguma vez um morto parou e pensou: "Ainda bem que não desperdicei grande parte da minha vida dormindo!"? Porque acho esse negócio de "quando você morrer vai ter muito tempo para descansar" a coisa mais nonsense!

15 de fev. de 2011

Eu propus que atravessássemos a rua e comêssemos um doce na padaria pela simples ação do fazer diferente. Que no dia a dia, a vida vai passando como um relógio e seus ponteiros, previsíveis em suas sucessões. É por isso que feriados e queda de energia no trabalho fazem a diferença. Quebram o já esperado (e necessário). Marcam a trajetória de outra cor. No fim, é o que fica. Todo o homogêneo dissolve memória abaixo.

13 de fev. de 2011

Somos mesmo dados a signos. Tão necessários...

Queria ao menos uma vez, que o álcool não estragasse os momentos importantes em família. Queria sentir só pena. Sinto também raiva e ressentimento.

9 de fev. de 2011

sei que chorei, inevitável. a visão aumentada das salas decoradas com seus lustres e papéis de parede. câmera cinematográfica. dormindo, chorei.


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chupei picolé de milho na espiga com cobertura de pistache. 


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achei na rua uma carteira escolar que era, na verdade, uma máquina Singer da década de 1960.

8 de fev. de 2011

Pois que um twit de @clau_matsukuma trazia: “Estou lendo um livro que me inspirou a seguinte reflexão: existe alguma frase que comece com "Pois" que mereça ser publicada?”. Sim! Inúmeras! Centenas! Partir da imprecisão, do pressuposto não dito, do que se concretizará na dúvida. É a licença que poucos gêneros assumem, e que tanto colorido nos dá.

23 de jan. de 2011

Entre o que se vê e o que se ouve há um espaço de certeza e espera. O que se prevê faz hiato pela esperança da mudança, do perdão, da volta por cima. O que se vê nem sempre faz presença na janela. Se transforma de claro em escuridão, com sons que ecoam e parecem dizer: ...
O tempo fechou. Tem fechado sempre. Dias escuros seguidos que vez ou outra deixam passar um feixe de luz. Mas tão passageiro...

3 de jan. de 2011

Acordei cedo, preparei o café da manhã, lavei a louça, arrumei a cama, dobrei as roupas da favela, estiquei o lençol do sofá, guardei os tênis e sapatos espalhados na área de serviço, fiz chá verde, digitei os apontamentos da última reunião, coloquei os e-mails em dia, organizei os livros e artigos que precisam ser lidos. Que desculpa vou arrumar agora para não escrever? Bem-vindo, 2011!

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...