20 de dez. de 2017

Silvia
Fernanda
"Cananga"
Fefa
Tuti
Tu
Fefê
Silvinha
Sil
Pequenina
CORRÊA, S. F.
Dona Silvia
Fuda
Fudinha
Fufu

São tantos nomes quanto aqueles que me nomeiam. Só eu não me chamo. E quando tento, não sei que nome atribuir ao que sobrou do que eu fui.
daqui a algumas horas, eu só queria de novo receber na cama aquele presente. eu só queria de novo ser acordada com aquele sorriso. eu só queria de novo ser importante por ao menos um dia. eu só queria de novo voltar a ser feliz.


a idade me trouxe maior tolerância, ou maior permissividade. pode ser uma virtude, ou um defeito, dependendo do ponto de vista. decidir por esse ponto é algo que a idade ainda não me trouxe.
existe uma cultura da superproteção. colocamos tapetes nos corredores para que não risquem. mantas nos sofás para que não desgastem. capas nos livros para que não estraguem. nós blindamos tudo e, nessa ânsia, mantemos um piso perfeito que nunca será visto. um sofá macio que nunca será tocado. uma capa que nunca será apreciada. guardamos tudo intacto para um futuro que não chegará, porque seremos nós os riscados, desgastados e estragados, admirando tudo "novo", mas não vivido. o melhor dos dias é agora. a grande oportunidade é hoje. é nessa hora exata que a melhor roupa deve ser usada para um dia comum. o perfume mais caro, o jogo de chá mais estimado, o amor mais puro. tudo precisa ser usado hoje, agora. porque um dia qualquer será nosso último dia, sem aviso. porque merecemos sempre nosso melhor.

8 de dez. de 2017

retrato deste tempo

aceitei que embranquecessem meus cabelos. não têm número na prateleira, mas esboçam meus quase 36. andam revoltos já, pois que continuam presos em parte.
minhas sapatilhas querem mais do que nunca dar lugar aos antigos tênis. trocaria-as todas por dois pares de conga, dos quais nunca deveria me ter desfeito.
perdi mais alguns kilos, dez no total. visto agora 36. já basta.
voltei a ter com os livros - os reais - e têm sido meu apoio mais sólido. todo o resto me escorre.
viver, quem diria, dói hoje ainda mais. como antes, dói um pouco menos a cada manhã. mas já não importa, tal sua dimensão. o tranquilo de hoje é, de muito longe, maior do que o inimaginável de pouco tempo atrás. quem dirá de quando tudo começou.
a pergunta que a todo o momento me invade, por estranho que pareça, me vem em inglês: "Why am I still here?".


7 de dez. de 2017

eu sou ainda tantas coisas...
mas de todas, tenho sido aquela que você, repetidas vezes, escolhe enganar
eu queria uma casa com plantas por todos os lados, brotando até de onde eu não vejo
eu queria uma sala repleta de livros, contando histórias até sem eu ouvir
eu queria é uma vida sem peso, que me permitisse voar longe, lugares que até eu mesma não sei
Atribuir ao roubado o roubo. Ao enganado o engano. Ao traído a traição. Não...
Quem rouba, engana, trai, o tem todo para si. Encerra nele todo o mal, não transfere. Que a vida roubada, enganada, traída, mantém-se ainda pura, sem mácula. Faz-se forte. E tem ao seu alcance o simplesmente ir. E deixar para trás a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. No outro.

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...