Era dia de festa. Logo cedo o murmurinho pela casa. O pai ia acordar antes do trabalho, dizer palavras bonitas, dessas que não se esquece. A mãe, com pouco recurso e muio carinho, dava café na cama, enfeitava tudo com a simplicidade do coração. Embrulhinhos, surpresas. Tinha a hora certa de comemorar, só de tarde, 16 e pouco. E tinha as ligações de que não gostava, e recomeçava a espera.
É dia de festa, mas não tem pai, nem mãe. Nem festa. É dia comum. Sem café, nem embrulhinhos. Nem surpresas pra não gostar e depois guardar pra sempre. Nem cartinhas pro diário antigo. Nem nada. Mais tarde as ligações. Menos. Coisa ou outra de um e outro - ela gosta. Ia gostar mais se fosse dia especial pra todos, ou pra alguns (pra um). Ia gostar mais se tivesse palavras bonitas, dessas que não se esquece. E café na cama, com enfeites de simplicidade do coração. E embrulhinhos, surpresas.
Passou. Agora, mais um ano.
Não tenho vidas paralelas, paralelo-me, e cada coisa a seu modo e a seu tempo tem a meu respeito uma visão. É certo que minhas plantas nutrem hoje por mim muito mais carinho do que sobrou em outro. E é certo também que eu guardo por elas exímia admiração. Estão sempre a sorrir e sempre, sempre à disposição para um toque sincero.
20 de dez. de 2009
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