16 de fev. de 2006

Autobiografia - Parte I

A pedidos do meu médico, iniciarei hoje a escrita da minha autobiografia. Na verdade, foram duas encomendas, esta, e também um diário. Deixo este para a próxima semana.

Comecemos.

Em dezembro de 1981, quase no Natal, eu nasci. Contam-me que a partir daí, não parei mais de chorar. E deve ser mesmo. Talvez seja essa uma das poucas características que me acompanham desde o nascimento: a sensibilidade, ou, para muitos, a chatice. Mas não importa. O que sei, é que chorava desesperadamente, e que meu pai gastou muitas de suas noites andando de um lado para outro comigo no colo, na nossa pequena casa de quarto e cozinha.
Minha mãe conta que, por volta dos 2, 3 anos de idade, tive um amigo imaginário. Um índio. Claro que não me lembro, porque minha memória começa por volta dos 3 anos completos, mas de tanto ela contar a velha história do dia em que não parava de rir porque o índio estava nú, acabei criando essa imagem, como se me lembrasse exatamente os detalhes, mas não.
Não me lembro de ter me mudado para Guarulhos, mas me lembro de, nos dias em que havia horário de verão, tomar banho e lavar meu cabelo, junto com minha mãe. Colocávamos, cada uma, uma camisa do meu pai, e o esperávamos chegar do trabalho, com o dia ainda claro. Ele sempre chegava e me beijava primeiro. Era uma pequena vitória (ele prefere a mim!). Coisas de criança.
Sempre fui muito apegada ao meu pai, muito. Lembro de ficar vendo-o consertar as coisas, lavar o carro (que eu estava sempre pronta para ajudar), fazer arroz com batata frita, tomar banho e fazer a barba. Tudo juntos. Lembro-me também de ter perguntado a ele inúmeras vezes "Qual a diferença entre um mim e mil e um", e também "Qual é a cor lá de dentro - me referindo ao corpo humano". Sim, eu era muito pentelha, muito! Quanto a minha mãe, lembro apenas que ela era muito nervosa, e que não me deixava ir à escola com os cabelos soltos. Lembro também que ela não respeitava que eu achava ridículo usar calça marrom com camiseta pink, e ainda, que não entendia que, se eu fosse à escola com dois rabos de cavalo, iriam me chamar de Chispita. Mas me lembro também que ela sempre via meus cadernos quando eu chegava da escola, e que, todos os dias, fazia batata frita com um palitinho de dente espetado para eu almoçar.
Lembro que fui uma criança muito sozinha. Nunca saí para a rua, nem ía à casa das amigas, nem ninguém ía em casa, com exceção de uma japonesinha que morava (e ainda mora) em frente à minha casa. Mas isso raramente. Lembro de brincar sozinha, sempre, de casinha, sempre! Tinha uma infinidade de panelinhas e utensílios de cozinha. Era muito bom, e muitas vezes fiz janta de mentira, enquanto minha mãe fazia janta de verdade. Gostava quando ela me dava alguns grãozinhos de arroz pra eu brincar...
Tinha muitos, muitos brinquedos, todos numa caixa enorme...
Bom, falando um pouco da minha relação com o restante da família, freqüentava muito a casa das minhas avós, a paterna, principalmente. Lá, tinha muitos tios, que adorava. lembro de chegar muito cedo, minha tia se arrumando pra sair, passando seu Gloss sabor menta, o mesmo que passou a deixar no alto do guarda-roupa, pra eu não poder mais usar... A casa da minha avó era mágica, porque tinha um quintal enorme, com árvores, redes e tudo mais. Ainda sinto o cheiro do refogado de arroz que ela fazia no final da tarde, e o cheiro do vento da noite, quando estava indo embora. Naquela casa, fui criança, e fui feliz.

Um comentário:

Tatá disse...

ah, você deveria colocar uma foto sua nesta parte. só pra ficar mais fácil te visualizar criança pequena. pq agora você é criança grande (pero no mucho!)

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