Sem mais
Hoje cheguei no Senac antes das 7h. Muito cedo ainda. Vindo pra cá, ouvi Fagner: deslizes. Ouço essa música desde criança, junto com outra de peixinhos, e sempre odiei. Mas percebi que, de um tempo pra cá, a velhice se faz presente, porque hoje em dia não só gosto de Fagner como também de outros cantores que antes detestava, como Maria Betânia, por exemplo... muito estranho isso, como vamos mudando sem nos darmos conta... Mas dessa vez, eu estou me dando conta da minha mudança. Ela tem durado uns seis meses já, e está sendo uma transição difícil. Não sei ao certo para onde estou indo, mas sei de onde saí. É como se tudo de repente estivesse suspenso, esperando alguma coisa acontecer para tomar seu lugar. Não sei explicar muito bem... Acho que parar de estudar quebrou uma rotina que eu precisava ter pra estar bem. De repente, posso fazer o que quiser, ou simplesmente não fazer nada. Não há mais quem me diga que preciso ir à escola (embora nunca tenha sido necessário ouvir isso), fazer faculdade etc e tal. Está tudo pronto, acabado. Uma vontade louca de nunca mais estudar, e ao mesmo tempo, um sensação de perda, de distanciamento, como se eu ficasse em órbita, enquanto o mundo lá embaixo continua a rodar.
Em duas semanas retomo tudo. Pós-Graduação chegando... não é o mestrado que eu tinha planejado há dois anos atrás, mas também não estou madura o suficiente para isso. Não tenho mais pressa, e essa foi uma das minhas mudanças. Em compensação, essa pressa se transferiu para outros setores, como a vontade de ter uma casa, meu canto.
As coisas aqui no trabalho andam estranhas... Hoje às 9h30min a Ana vai participar de uma dinâmica, parte do processo de seleção para uma vaga na unidade Jabaquara. Estamos todos torcendo muito, pelo menos eu estou, e acho que vai fazer muito, mas muito bem pra ela poder, depois de tanto tempo, ser valorizada por aquilo que acha que deve ser valorizada. Ganhar bem, trabalhar "de verdade", poder arcar com suas responsabilidades. A Graça disse que a próxima a ser "despachada" serei eu. E de novo o medo, a insegurança. Total estado de inércia. Não quero sair, mudar, encarar outra paisagem, mas já não posso continuar, deixar as coisas como estão. Às vezes sinto falta de novos desafios (mas só daqueles que acho ser capaz de superar), novos elogios, novas vitórias. Será? Será que terei coragem de buscar? De ir atrás?!
Eu não sei...
Mas sei que estou com medo de chegar o sábado, e mais uma vez não ter coragem de tentar ser feliz. Tenho medo de ficar mais uma vez em casa, ensaiando para ler Crime e Castigo, me angustiando com a angústia de Rasklhnkóv (me recuso a abrir o livro pra ver se é assim mesmo que escreve), e vendo, ao final da noite, que devia ter feito alguma coisa por mim.
Medo de não tomar as decisões corretas, e ter que começar tudo de novo.
Medo do fim, e, em presença deste, do recomeço.
A princípio, não agüentei de curiosidade e abri o livro. O nome do infeliz é Raskólhnikov.
Não tenho vidas paralelas, paralelo-me, e cada coisa a seu modo e a seu tempo tem a meu respeito uma visão. É certo que minhas plantas nutrem hoje por mim muito mais carinho do que sobrou em outro. E é certo também que eu guardo por elas exímia admiração. Estão sempre a sorrir e sempre, sempre à disposição para um toque sincero.
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Um comentário:
fuda, te conheço há mais de seis meses. desde as suas últimas férias... logo, participei do seu processo de mudança! mudar é sempre muito triste. dá uma nostalgia do que foi e uma incerteza do que virá, a gente sempre fica mesmo neste impasse e deixa de viver o presente. isso é chavão, eu sei. mas é que é também a minha busca...
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