Ontem no ônibus, reencontrei um amigo do terceiro colegial. Um amigo que não era amigo, era colega de classe. Um amigo com quem eu mal falava, de quem eu falava mal às vezes. Alguém que em nada interferiu na minha vida. Alguém que eu não admirava. Alguém comum. Um mais alguém, preenchimento de espaço.
Mas ontem, com o mesmo rosto, com outra voz, outra vida, me pareceu amigo de infância, porque não importa o papel que as pessoas tenham tido na minha vida, depois, quando já não fazem parte, são todas muito importantes, ganham o status de "Personagens de um tempo feliz", mesmo que não tenham sido. Se tornam pelo fato de já não serem, mesmo que agora queira.
Nostalgia, saudosismo. Lembrar velhas fórmulas, velhas histórias, velhas pessoas, hoje já tão velhas como eu, ou ele. Saber que tiveram filhos, se casaram, se mudaram, se viveram, assim como nós.
Será que todos eles, ao se encontrarem ou lembrarem de mim, têm a mesma impressão? Será que pensam que talvez foi bobeira se deixar levar pelos grupinhos, pelas panelas, pelas primeiras impressões, pelos mal entendidos, pelos pequenos desentendimentos da adolescência? Será que não teria valido a pena ser feliz com todos, por igual?
Será que hoje isso tudo ainda não vale?! Por que só damos valor às pessoas quando as perdemos? E ainda: por que será que muitas vezes só dou valor às pessoas quando as reencontro, ainda que nunca as tenha tido?!
Eu não sei. Mas gostei de revê-lo. Gostei de, novamente, ser quem eu era. Eu gostava de ser quem era, e já não sou mais. Mais ontem fui, e posso ser quantas vezes quiser.
É tão mágico... essa pessoa, conheceu alguém que hoje, poucas pessoas conhecem. As meninas do Senac, o Tanga, o Ricardo, o Walens, meus pais, minha irmã, minha família. Ninguém me conheceu como ele. Assim como hoje, tantos já não me conhecem. Porque desempenhamos tantos diferentes papéis, num mesmo tempo, num mesmo segundo. Agora sou Silvia. Se atender ao telefone, posso ser Fernanda. E se escrever no msn, posso ser Fuda, e no e-mail, Fefa.
Já fui tantas... quem serão eles hoje?
Não tenho vidas paralelas, paralelo-me, e cada coisa a seu modo e a seu tempo tem a meu respeito uma visão. É certo que minhas plantas nutrem hoje por mim muito mais carinho do que sobrou em outro. E é certo também que eu guardo por elas exímia admiração. Estão sempre a sorrir e sempre, sempre à disposição para um toque sincero.
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