Poucas as coisas que sonhei ser e não fui, ou que sonhei ter e não tive. Pisei em tacos, morei sob vigas de madeira, guardei roupa atrás de respiradores, tive livros pra relacionar a um tema, juntei perfumes diversos, usei óculos com cabelo repartido ao meio, pisei all stars, tive agenda com papéis soltos dentro, um armarinho ao lado da pia, moro num apartamento onde às vezes é cinza pela janela. Eu sinto muita falta dela. Eu agora dou valor à minha família e sofro um dia perdê-la. Eu sonho com minhas futuras conversas com a Heleninha, ou com o Hiroshi, quem sabe. Ainda vou costurar com minha Singer. Vou aumentar consideravelmente meus livros. Quero ler ao menos um décimo deles antes de não poder mais. Quero ter um apartamento antigo e mobiliá-lo às modas da época.
Não tenho vidas paralelas, paralelo-me, e cada coisa a seu modo e a seu tempo tem a meu respeito uma visão. É certo que minhas plantas nutrem hoje por mim muito mais carinho do que sobrou em outro. E é certo também que eu guardo por elas exímia admiração. Estão sempre a sorrir e sempre, sempre à disposição para um toque sincero.
18 de abr. de 2010
Mas que quer dizer nacionalizar a língua portuguesa? Será misturá-la com o tupi? Ou será dizer em português aquilo que é intraduzível, e que tem cunho particular nas línguas estrangeiras? Mãos à obra. Daqui em diante, em vez de dizer passeei num coupé, se dirá andei num cortado.
(...)
Quem não quiser por isso, pode agarrar-se à língua tupi, e achará nela uma mina ainda não explorada de imagens poéticas, uma multidão de nomes fanhos, de frutas, de coquinhos, de bichinhos, de cipós, que devem ser de uma originalidade encantadora. Teremos então cabelos de samambaia, lábios de uricuri, olhos de guajirú, et reliquia commitante caterva.
3 de abr. de 2010
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