15 de abr. de 2014

ah, se pudesse cheirar seus cabelos e ver de perto o brinco de vidro que muda-a-cor imita à sua volta.
por entre as suas tocar as mãos de tão frágeis unhinhas sem pintar, com calos de escrever nos dedos três e cinco.
se pudesse bem pertinho perscrutar nas poucas irregulares sardas um padrão complexo de constelações.
e a ouvisse dizer sussurante aos cantos coisas como "titubeante", "pestanejar" e "distinto".
ah, se pudesse... diria mais uma vez: te escolho.
não adentro as blusas na calça. não uso justas. cada vez menos as sem manga. prediletas são agora amarela e de coelho na estampa. não uso cor nem estampa.
não uso calça não jeans ou preta. prefiro as que findam bem largas, as que não tenho. cada vez mais altas na cintura. prediletas são agora as por fazer a barra guardadas no armário. a vida tá barra.
e é assim que de repente quero mais nada disso, dessa vida sem foco e meu ficus que a cada dia menos fica. eu vejo tudo torto do início já e sem sentido se for pra ser assim.
mas aí... você mostra a pelinha do dedo e faz aquela cara, diz que "tádueno" e tudo rosa outra vez, pra eu tentar de novo falar dos filhos que não teremos.
um e outro vez e outra toda vez. sete anos. parabéns.

14 de abr. de 2014

(recuperado dos rascunhos de 2011, incompleto...)

O filtro São João de que eu tanto gostava o sabor, embolorava e tinha pouca capacidade. Os talheres verdes divertidos oxidaram. A pia antiga já estava gasta e áspera. E mesmo assim tudo era tão perfeito que se bastava. Bastava um amor tão grande que ocupava todo e qualquer espaço de incerteza e imperfeição. Esse vestido já não uso mais. O relógio sem bateria.

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...