31 de mai. de 2009

Lembrei o fogãozinho plástico azul, com botijão por fio pendurado. Estava guardado, nem sei por onde. Era vazio por dentro. Simplório, sem acabamento. No espaço armado, delimitado, utensílios devidamente organizados. E a menina, que ainda chora diante do escuro.
Não porque sem afeto, mas pelo puro cansaço da tentativa. Como dia a dia esperar na estação pelo desembarque, que nunca acontece. Uma devoção. Um modo de vida. À saudade e à privação. Por si mesma, não pelo outro. Um belo dia, tira recém-desabrochada a flor cultivada em lágrimas. Sai por aquela porta e não volta mais.
A máxima libertadora: aprenda a se amar.

19 de mai. de 2009

Saí da USP quinta-feira, 14/05, por volta das 19h. Peguei um Casa Verde [8 alguma coisa]P.

Tinha acabado de ouvir uma das notícias que mudariam minha vida : "Você passou.". Não foi bem isso que ouvi, mas vai ficar assim, guardado.

Sentei no banco único do lado direito, e chorei. Liguei pro Meu Amor. Escrevi pra minha mãe, pro meu tio, pra minha tia, pra minha irmã. E ouvi, claro como pode ser, minha vó dizendo "Minha fia é tão inteligente, puxou sua tia!". Queria tanto que ela estivesse lá. Queria tanto ver de novo seu sorriso orgulhoso, sentir seu abraço. Queria tanto que ela soubesse...
Ia começar a falar sobre como o trabalho molda as pessoas, mas me veio outra divagação. Estava pensando que, mesmo eu estando há seis meses trabalhando com a mesma coisa, e, todos os dias, abrindo as mesmas pastas de trabalho, clicando nos mesmos ícones e lidando com os mesmos arquivos, sou incapaz de lembrar o que está escrito no ícone de atalho que mais tenho clicado em todo esse tempo. Não é um absurdo que passemos pela vida sem nos darmos conta dessas coisas? Não é absurdo como automatizamos tanto nossas rotinas a ponto de não prestar atenção aos detalhes? Acho mesmo que não, em absoluto. Ao contrário, é perfeitamente normal e aceitável. Porque eu sei, por exemplo, que basta entrar com meu login e senha que ele estará lá, no extremo superior direito da tela, representado por uma árvore verde. Sei, ainda, que é composto por poucas letras, uma sigla, provavelmente. E sei o que encontrar dentro e isso é tudo que preciso saber. Oras, por que é mais importante a palavra que a forma? Por que nos envergonhamos de não nos lembrarmos do nome de alguém se conseguimos situá-la no espaço-tempo de nossa vida? Por que o signo verbal se sobressai na nossa cultura? Por que, afinal, saber informações é mais importante que saber sentimentos, sensações, percepções de maneira geral? Só, e tão somente (creio), porque é mais fácil (objetivo) se expressar com palavras. Diria até representar com palavras, na contramão das artes. Só serve mesmo na esfera objetiva.

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...