26 de dez. de 2010

Os sonhos deixam a lembrança amarga do que vem pela frente. Pessoas são complicadas... Lidar com egos e defeitos e tudo mais que vem junto em cada um é o aprendizado de uma vida. Mudar do auto-retrato para a foto panorâmica.

21 de dez. de 2010

é da natureza o gosto pelo que falta.
dos adereços sou dos mínimos, das estampas, as sem. na impossibilidade, as de pequena flor.das cores faço votos. sempre nulos, mas compareço. das saudades, muitas. do aproveitamento, jamais.
quando todos deixam aquilo que de tudo não podem controlar, não há que fazer, além de sentir.
falta.
Não faz mal
Não ser compositor
Se o amor valeu
Eu empresto um verso meu
Prá você dizer...
café na cama com o presente possível












pular do sofá no presente amargo

18 de dez. de 2010

Viveria num mundo de formas retas, ovais porém simétricas. Passo o cartão na catraca no exato paralelismo. Espaço pensado de medidas iguais. Desvio milimétrico. Mão ao bolso no escuro. Tudo em seu devido lugar. Tudo como deveria ser. Tudo como precisa ser. Para que eu continue vivendo.
Pequenos pixels tingidos de verde. Quadrados e folhas. Desprezo e dor.
No descer rápido das escadas, automático, penso o movimento e já não sei como se faz. Diminuo o ritmo. Pensamento ao longe, e novamente me apresso.

15 de dez. de 2010

passo pelos ateliês da faap todos os dias. os armários são tingidos de tinta óleo azul-cinza-esverdeado. o cheiro que sai de dentro é dos móveis já antigos, o mesmo dos guarda-roupas e do piso de tacos da segunda casa da minha avó. o mesmo que eu sentia pelas manhãs ainda escuras quando chegava e deitava um pouco mais na cama ainda desarrumada. cheiro de casas que já não se fazem, porque os compensados e laminados não têm mais essa essência, nem terão. minha casa nova quando for velha não despertará essas notas. talvez outras. talvez nenhuma. todos os dias passo pelos ateliês da faap e sinto aquele cheiro que traz os cômodos maiores do que realmente eram. os móveis nem de longe se tocam. mas eram tão próximos! eles guardavam cumplicidades, das coisas que minha avó escondida bem no fundo, das manchas na penteadeira que eu escondia com os vidros de perfume. da janela um tanto baixa para as crianças. a gaveta só fechava quando bem reta. as roupas eram passadas sobre a cama. os carretéis de linha branca e preta no alto canto do guarda-roupa maior. hoje eu alcanço. para mostrar que nada é inatingível, quando se tem tempo.

1 de dez. de 2010

jogar: deslocar (algo) pelo ar (até determinado ponto), usando força muscular ou alguma arma; atirar, arremessar, disparar
fora: na parte exterior de; na face externa de; algum lugar diverso da residência habitual; no lixo, na lixeira; de maneira a separar (uma parte) do todo.

separar uma parte do todo. uma parte que até então pensava-se não poder separar. arremessá-la longe.
ela encontrou um cara que a entendida perfeitamente. o cara. mas não amava. quando amou se casou, mas nem tanto. ele não a entendia. e ela encontrou um cara que a entendia perfeitamente.
se fossem só as palavras, elas poderiam ser esquecidas. os gestos aliviados, substituídos por trechos inventados, coloridos com outras cores. a memória é o menor dos problemas. não é o problema. a memória cala e se apaga. e nem precisa tempo. mas o que de triste fica inscrito é invisível, irrecuperável, indizível. o que de triste marca, marca pra sempre. não marca, se imbrica, se enlaça. cicatriza junto e inseparável. o que de triste constitui já forma outro, não o mesmo. e nem se dá conta. do porquê mudamos com o passar dos anos. porque petrificamos. porque morremos um pouco por dia.
me sinto no fundo, silêncio, visão turva. a impossibilidade de voltar fácil. a necessidade de fazê-lo. encher novamente o peito de vida. respirar, enfim. me sinto no fundo. ninguém à volta. só queria voltar e sentir o vento. me lembro que nasci no mar.
Ideias de capinhas pro meu novo caderno de rascunho.



passei apressada pela vitrine. vi! e ela me viu. parei. pestanejei. passei. na volta, desviei do caminho certo. entrei. olhei, olhei, olhei. pensei em tudo de lindo que sairia dali. cafés da manhã mais felizes, heleninha querendo o dela sem presunto. hiroshi querendo o dele com muito queijo. siger querendo o dele com tudo! peguei a fila sem fim e ela quase não acabou, mas fui pra casa com esses poucos momentos de certeza. peguei metrô, ônibus, desci na padaria. pés cansados, muito cansados. obrigações pesando na bolsa. pedi cinco. chegando, chás direto pro congelador! pronto o cenário. pronto o figurino. prontas as falas. espera. ninguém assistiu à peça. encenei sozinha uma felicidade de mentira.

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...