16 de abr. de 2017

Chega sem olhar para trás. Não importa o ônibus na iminência. Caminha fixa, para no mesmo lugar. Saca da bolsa roxa seu Kindim. Lança olhares. Entra. "Bom dia". Atrás dela, outros "Bom dia". (Nota que só se repetem porque seu começo.) Espera na catraca parada seguinte, sem solavancos. Toca os balaustres como barras de ballet: leve apoio, não escora. Em geral não senta. Vez ou outra lacrimeja. Quer congelar e costurar mais esse aos momentos de revelação diária.
Helena,

noutra páscoa será você a procurar os ovos. Ovos, porque serão pequenos vários de diferentes espécies, veganos, orgânicos, muitos por cento cacau e essas coisas todas como deve ser. Dentre eles, um dos "normais". Você aprenderá, não por palavras, o que é bom e o que não é. Você compreenderá, por dentro, o que é melhor. Por dentro, que é a única maneira verdadeira de se aprender alguma coisa. Não serei eu a te dizer o que faz bem e o que não faz. Você saberá, a partir de dentro. Você criará a verdade por si mesma. Saberá também que o brinquedo de dentro é desimportante em relação à brincadeira de fora. A busca, a tradição, o carinho. Você reconhecerá o amor enquanto busca (ambos os sentidos). Feliz Páscoa, minha pequena Aneleh.

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...