Tudo ridículo
O Walens disse que meu jeito de escrever é ridículo. "R I D Í C U L O", e não outro, assim, sem mais. Acho que vou sofrer um bloqueio criativo, e já começou.
Mal consigo escrever. Fico pensando as palavras e um jeito de arranjá-las de forma tal, que não pareça ridículo. Mas acho que não adiantou muito, ainda há resquícios de "fudafofa" nas entrelinhas, porque se não houvesse, ficaria assim:
"O Walens disse que meu jeito de escrever é, simplesmente, ridículo. Acho que não estou mais conseguindo escrever como antes, porque fico pensando em cada palavra, pra que não pareça ridículo. Mas acho que não adiantou muito, pois ainda dá pra perceber que sou eu quem está escrevendo."
Bom, ridículo ou não, aqui está.
E por falar em ridículo, ontem fui ao Mercado Municipal de São Paulo (que não é nada ridículo). Simplesmente lindo, mas não tanto como nas novelas da Globo, menos, bem menos. As filas gigantes impediram que eu experimentasse os lanches de mortadela e os pastéis de bacalhau, e ainda bem, porque eu jogaria 90% do recheio de ambos no lixo. No lugar, comi uma fatia de abacaxi por R$1,50, tomei um copo de água de coco, também por R$1,50 e, pra finalizar, um docinho árabe com pistache, por R$2,00 (bem que podia ter ficado sem ele e passado com uma refeição saudável).
Como somos (eu e o Walens), ou melhor, éramos turistas de primeira viagem, experimentamos a fruta Pitaya, comendo de colherzinha, como se fosse sobremesa (R$2,50 meia fruta, com direito a duas colheres! :)
Quando descemos na estação da Luz fiquei meio angustiada. Tudo tão decadente, tão diferente do meu centro lindo, imponente. Lá, prédios velhos, tomados, arruinados, como são igualmente arruinados seus moradores.
Tentei explicar pro Walens a diferença entre "antigo" e "velho". Lá, quase tudo era velhice, feiura, tristeza. Como é ruim ver que algumas coisas são assim, e longe dos olhos, dos meus, pelo menos, que até então pensava tudo com sépia, com o carinho de uma apaixonada platônica. Mas ontem, quando alcancei, tudo se desfez.
Não volto lá tão cedo...
...
Hoje à tarde fiquei buscando azulejos antigos num site bacana que descobri (http://www.azulejosantigos.com.br/). Tenho vontade de fazer alguma coisa com eles no meu futuro-lindo-apartamento-fofo! Antes pensava em fazer um painel na cozinha, ou no corredor, com vários azulejinhos, um ao lado do outro, mas agora já penso em fazer algo menos artístico mesmo... Tem uns modelos lindos lindos... Entre eles, achei os da vovó, e fiquei feliz!!!!!!
Não tenho vidas paralelas, paralelo-me, e cada coisa a seu modo e a seu tempo tem a meu respeito uma visão. É certo que minhas plantas nutrem hoje por mim muito mais carinho do que sobrou em outro. E é certo também que eu guardo por elas exímia admiração. Estão sempre a sorrir e sempre, sempre à disposição para um toque sincero.
28 de fev. de 2006
24 de fev. de 2006
A palavra de hoje é incrível!
Hoje acordei às 5h20 e não às 5h30. Tomei café da manhã: fiz um chocolate quente, comi um fatia de pão com requeijão, mas tudo calmamente. Ainda assim não levei muito tempo. Me senti bonita: cabelo mal preso, blusa preta, Conga e jeans. Mais as pulseirinhas e a bolsa predileta. Como sempre quis ter um cabelo curto mal preso, usar um Conga e ter muitas coisinhas penduradas no punho!
Pra variar, também fui lendo. O Érico uma vez me disse que não somos nós quem escolhemos os livros, mas eles que nos escolhem. Por isso estar lendo o excelentíssimo “Crime e Castigo”. Parece que fui também eu a cometer um crime, ter visões e alucinações.
Ainda sobre o livro: um milhão de sinapses por segundo para desvendar o comportamento humano, as interpretações subjetivas, as pessoas e suas mentiras. O ser humano é mesmo incrível em sua mesmice, em sua ignorância. Humano: um universo num único ser, único, mesmo entre milhões.
No caminho, o Sol iluminava a tudo, conferindo-lhe um tom amarelo e vermelho, como nas embalagens de biscoito de chocolate, também com pigmentos amarelos e vermelhos que fazem com que tenhamos vontade de mordê-los tão prontamente o olhamos. Assim também fez o Sol: iluminou tudo e todos de forma que tivéssemos vontade de viver só de olhar ao redor. É de se entender os índices de suicídio cometidos por pessoas que vivem em lugares sempre cinzas, assim como também são marrom-acinzentados os biscoitos de chocolate na vida real. Mais do mesmo, rotina.
Quando cheguei ao centro velho, uma descoberta: a face principal do prédio onde fica o cine marabá (que está com sua fachada restaurada) é voltada para o leste. Perfeito! A luz da manhã de manhã, e a penumbra no entardecer. Mais uma vez: P E R F E I T O !
Hoje estava mesmo voltada a observações.
Como não notar aquele homem homossexual que vejo todos os dias no ponto, olhando com seu olhar violador um exemplar perfeito do sexo masculino. Fiquei imaginando o que ele “poderia estar imaginando”.
Mais em frente, em frente ao cemitério da Dr. Arnaldo, uma menina de blusa laranja, saia jeans, chinelo laranja. Cabelos médios, presos, e sua bolsa vermelha. Como era linda em sua simplicidade, em seu não cuidar-se. Pensei em como é fácil amar uma mulher, pois são apaixonantes em sua maneira única de combinar e se movimentar.
Porque amo as mulheres as mais diferentes
Sem lhes taxar a mesma alvura de pele, nem o mesmo escurecer de cabelos
Porque são elas, e sabem buscar em si mesmas, a beleza de ser quem são.
E quando desci do ônibus, tive vontade de chorar, pois vi um cachorro branco, também incrível em sua condição canina.
Mais um dia começou, e mal começou, e já valeu o dia.
Hoje acordei às 5h20 e não às 5h30. Tomei café da manhã: fiz um chocolate quente, comi um fatia de pão com requeijão, mas tudo calmamente. Ainda assim não levei muito tempo. Me senti bonita: cabelo mal preso, blusa preta, Conga e jeans. Mais as pulseirinhas e a bolsa predileta. Como sempre quis ter um cabelo curto mal preso, usar um Conga e ter muitas coisinhas penduradas no punho!
Pra variar, também fui lendo. O Érico uma vez me disse que não somos nós quem escolhemos os livros, mas eles que nos escolhem. Por isso estar lendo o excelentíssimo “Crime e Castigo”. Parece que fui também eu a cometer um crime, ter visões e alucinações.
Ainda sobre o livro: um milhão de sinapses por segundo para desvendar o comportamento humano, as interpretações subjetivas, as pessoas e suas mentiras. O ser humano é mesmo incrível em sua mesmice, em sua ignorância. Humano: um universo num único ser, único, mesmo entre milhões.
No caminho, o Sol iluminava a tudo, conferindo-lhe um tom amarelo e vermelho, como nas embalagens de biscoito de chocolate, também com pigmentos amarelos e vermelhos que fazem com que tenhamos vontade de mordê-los tão prontamente o olhamos. Assim também fez o Sol: iluminou tudo e todos de forma que tivéssemos vontade de viver só de olhar ao redor. É de se entender os índices de suicídio cometidos por pessoas que vivem em lugares sempre cinzas, assim como também são marrom-acinzentados os biscoitos de chocolate na vida real. Mais do mesmo, rotina.
Quando cheguei ao centro velho, uma descoberta: a face principal do prédio onde fica o cine marabá (que está com sua fachada restaurada) é voltada para o leste. Perfeito! A luz da manhã de manhã, e a penumbra no entardecer. Mais uma vez: P E R F E I T O !
Hoje estava mesmo voltada a observações.
Como não notar aquele homem homossexual que vejo todos os dias no ponto, olhando com seu olhar violador um exemplar perfeito do sexo masculino. Fiquei imaginando o que ele “poderia estar imaginando”.
Mais em frente, em frente ao cemitério da Dr. Arnaldo, uma menina de blusa laranja, saia jeans, chinelo laranja. Cabelos médios, presos, e sua bolsa vermelha. Como era linda em sua simplicidade, em seu não cuidar-se. Pensei em como é fácil amar uma mulher, pois são apaixonantes em sua maneira única de combinar e se movimentar.
Porque amo as mulheres as mais diferentes
Sem lhes taxar a mesma alvura de pele, nem o mesmo escurecer de cabelos
Porque são elas, e sabem buscar em si mesmas, a beleza de ser quem são.
E quando desci do ônibus, tive vontade de chorar, pois vi um cachorro branco, também incrível em sua condição canina.
Mais um dia começou, e mal começou, e já valeu o dia.
[mais uma coisa incrível: no Google não tem nenhuma imagem do Cine Marabá pra eu colocar aqui. Terei de ser eu mesma a fotografar-lhe a fachada, lindamente iluminada num dia comum]
23 de fev. de 2006
Sem mais
Hoje cheguei no Senac antes das 7h. Muito cedo ainda. Vindo pra cá, ouvi Fagner: deslizes. Ouço essa música desde criança, junto com outra de peixinhos, e sempre odiei. Mas percebi que, de um tempo pra cá, a velhice se faz presente, porque hoje em dia não só gosto de Fagner como também de outros cantores que antes detestava, como Maria Betânia, por exemplo... muito estranho isso, como vamos mudando sem nos darmos conta... Mas dessa vez, eu estou me dando conta da minha mudança. Ela tem durado uns seis meses já, e está sendo uma transição difícil. Não sei ao certo para onde estou indo, mas sei de onde saí. É como se tudo de repente estivesse suspenso, esperando alguma coisa acontecer para tomar seu lugar. Não sei explicar muito bem... Acho que parar de estudar quebrou uma rotina que eu precisava ter pra estar bem. De repente, posso fazer o que quiser, ou simplesmente não fazer nada. Não há mais quem me diga que preciso ir à escola (embora nunca tenha sido necessário ouvir isso), fazer faculdade etc e tal. Está tudo pronto, acabado. Uma vontade louca de nunca mais estudar, e ao mesmo tempo, um sensação de perda, de distanciamento, como se eu ficasse em órbita, enquanto o mundo lá embaixo continua a rodar.
Em duas semanas retomo tudo. Pós-Graduação chegando... não é o mestrado que eu tinha planejado há dois anos atrás, mas também não estou madura o suficiente para isso. Não tenho mais pressa, e essa foi uma das minhas mudanças. Em compensação, essa pressa se transferiu para outros setores, como a vontade de ter uma casa, meu canto.
As coisas aqui no trabalho andam estranhas... Hoje às 9h30min a Ana vai participar de uma dinâmica, parte do processo de seleção para uma vaga na unidade Jabaquara. Estamos todos torcendo muito, pelo menos eu estou, e acho que vai fazer muito, mas muito bem pra ela poder, depois de tanto tempo, ser valorizada por aquilo que acha que deve ser valorizada. Ganhar bem, trabalhar "de verdade", poder arcar com suas responsabilidades. A Graça disse que a próxima a ser "despachada" serei eu. E de novo o medo, a insegurança. Total estado de inércia. Não quero sair, mudar, encarar outra paisagem, mas já não posso continuar, deixar as coisas como estão. Às vezes sinto falta de novos desafios (mas só daqueles que acho ser capaz de superar), novos elogios, novas vitórias. Será? Será que terei coragem de buscar? De ir atrás?!
Eu não sei...
Mas sei que estou com medo de chegar o sábado, e mais uma vez não ter coragem de tentar ser feliz. Tenho medo de ficar mais uma vez em casa, ensaiando para ler Crime e Castigo, me angustiando com a angústia de Rasklhnkóv (me recuso a abrir o livro pra ver se é assim mesmo que escreve), e vendo, ao final da noite, que devia ter feito alguma coisa por mim.
Medo de não tomar as decisões corretas, e ter que começar tudo de novo.
Medo do fim, e, em presença deste, do recomeço.
A princípio, não agüentei de curiosidade e abri o livro. O nome do infeliz é Raskólhnikov.
Hoje cheguei no Senac antes das 7h. Muito cedo ainda. Vindo pra cá, ouvi Fagner: deslizes. Ouço essa música desde criança, junto com outra de peixinhos, e sempre odiei. Mas percebi que, de um tempo pra cá, a velhice se faz presente, porque hoje em dia não só gosto de Fagner como também de outros cantores que antes detestava, como Maria Betânia, por exemplo... muito estranho isso, como vamos mudando sem nos darmos conta... Mas dessa vez, eu estou me dando conta da minha mudança. Ela tem durado uns seis meses já, e está sendo uma transição difícil. Não sei ao certo para onde estou indo, mas sei de onde saí. É como se tudo de repente estivesse suspenso, esperando alguma coisa acontecer para tomar seu lugar. Não sei explicar muito bem... Acho que parar de estudar quebrou uma rotina que eu precisava ter pra estar bem. De repente, posso fazer o que quiser, ou simplesmente não fazer nada. Não há mais quem me diga que preciso ir à escola (embora nunca tenha sido necessário ouvir isso), fazer faculdade etc e tal. Está tudo pronto, acabado. Uma vontade louca de nunca mais estudar, e ao mesmo tempo, um sensação de perda, de distanciamento, como se eu ficasse em órbita, enquanto o mundo lá embaixo continua a rodar.
Em duas semanas retomo tudo. Pós-Graduação chegando... não é o mestrado que eu tinha planejado há dois anos atrás, mas também não estou madura o suficiente para isso. Não tenho mais pressa, e essa foi uma das minhas mudanças. Em compensação, essa pressa se transferiu para outros setores, como a vontade de ter uma casa, meu canto.
As coisas aqui no trabalho andam estranhas... Hoje às 9h30min a Ana vai participar de uma dinâmica, parte do processo de seleção para uma vaga na unidade Jabaquara. Estamos todos torcendo muito, pelo menos eu estou, e acho que vai fazer muito, mas muito bem pra ela poder, depois de tanto tempo, ser valorizada por aquilo que acha que deve ser valorizada. Ganhar bem, trabalhar "de verdade", poder arcar com suas responsabilidades. A Graça disse que a próxima a ser "despachada" serei eu. E de novo o medo, a insegurança. Total estado de inércia. Não quero sair, mudar, encarar outra paisagem, mas já não posso continuar, deixar as coisas como estão. Às vezes sinto falta de novos desafios (mas só daqueles que acho ser capaz de superar), novos elogios, novas vitórias. Será? Será que terei coragem de buscar? De ir atrás?!
Eu não sei...
Mas sei que estou com medo de chegar o sábado, e mais uma vez não ter coragem de tentar ser feliz. Tenho medo de ficar mais uma vez em casa, ensaiando para ler Crime e Castigo, me angustiando com a angústia de Rasklhnkóv (me recuso a abrir o livro pra ver se é assim mesmo que escreve), e vendo, ao final da noite, que devia ter feito alguma coisa por mim.
Medo de não tomar as decisões corretas, e ter que começar tudo de novo.
Medo do fim, e, em presença deste, do recomeço.
A princípio, não agüentei de curiosidade e abri o livro. O nome do infeliz é Raskólhnikov.
21 de fev. de 2006
Porque às vezes é importante dizer a alguém o quanto ela é especial
Este versinho eu fiz pra Cacá. Por um instante, vi seu sorriso, suas cores, e me deu vontade de dizer o quanto são especiais, mesmo que não sejamos tão próximas. Há tanta poesia na vida, nas coisas simples, no dia-a-dia. É uma pena que não haja uma caneta mágiga que transcreva prontamente todos os meus pensamentos.
Uma beleza rara, única
Vermelho, laranja, verde
Todas as cores
A brilhar em você, por você
O não-deixar aproximar-se
O primeiro contato
E a entrega
Assim és
A luz que às vezes mingua, mas nunca apaga
A busca constante, incansável, ainda que às vezes canse
Cláudia - e não outra!
Este versinho eu fiz pra Cacá. Por um instante, vi seu sorriso, suas cores, e me deu vontade de dizer o quanto são especiais, mesmo que não sejamos tão próximas. Há tanta poesia na vida, nas coisas simples, no dia-a-dia. É uma pena que não haja uma caneta mágiga que transcreva prontamente todos os meus pensamentos.
Uma beleza rara, única
Vermelho, laranja, verde
Todas as cores
A brilhar em você, por você
O não-deixar aproximar-se
O primeiro contato
E a entrega
Assim és
A luz que às vezes mingua, mas nunca apaga
A busca constante, incansável, ainda que às vezes canse
Cláudia - e não outra!
Diário!
Depois da crise do final de semana, dos remédios homeopáticos que duvido que funcionem, da angústia de Dostoiévski, do cabelo que teima em não ficar como eu quero, das espiadas nos Fotologs de pessoas que, mesmo sem conhecer eu admiro, mesmo sabendo que jamais seria uma delas... depois de gastar quase R$100,00 em produtos light no supermercado e depois ainda de ter que comer qualquer coisinha leve a cada 3 horas, aqui estou eu. Demorei para escrever, porque preciso de calma, solidão, e nem sempre é fácil encontrar.
Não sei o que está acontecendo, e na verdade sei. O cansaço, a mesmice, a espera. O esperar por um dia em que terei dinheiro (embora sua falta não seja algo realmente relevante para mim, mas de certa forma, fica guardada um pouquinho por dia, até que se faz ver), uma bela vista da minha janela e enfim, felicidade.
É tão ridículo apostar todas as fichas em um único palpite, e eu sei que todos os meus "sonhos" não são suficientes para eu ser feliz, mas preciso apostar em alguma coisa, e no momento, o que mais almejo, é meu apartamento no centro, antigo, lindo, cheirando a casa de vó de manhã, é isso o que eu quero. Depois de ir ao apartamento da Tatá na semana passada, no Bixiga, em meio a cantinas italianas e em frente a uma escadaria muito romântica, essa vontade aumentou, e aumenta cada vez mais. É como se minha vida pudesse ser poesia, todos os dias. Às vezes penso que se continuar assim, serei mais uma daquelas pessoas que acabam pirando e vivendo numa realidade paralela... quase me vejo comprando roupas de época e andando em preto e branco, rapidamente, pelo centro de São Paulo, como nas gravações antigas. Mas não. Acho mais provável que eu jamais encontre o que procuro, porque isso já passou. E a dificuldade de me encontrar agora, no meu espaço-tempo...
No trabalho as coisas caminham... parece que começam, mas nunca, nunca terminam. Isso me cansa: ver que as coisas estão pendentes, pairam no ar, sem nunca ser guardadas e arquivadas... mas tenho esperanças... do Mídias finalmente terminar, das ferramentas ficarem prontas. Tudo no seu lugar.
No domingo o Walens chorou. Parece que a forma que arrumei para me castigar de meu mau compartamento com ele é afastá-lo de mim e sofrer por isso. Esse seria meu castigo. O trato mal para me penalizar. Isso é meio inconsciente, mas agora acho que está claro. É isso que estou fazendo. Mas por que não simplesmente ser uma boa companhia? Por que não tentar ver que minha vida é perfeita? Parece que preciso encontrar um problema, afinal, não há personagens célebres sem problemas, sem sofrimento, sem dor. É preciso uma dificuldade, um objetivo. Talvez essa rebeldia com a vida, esse não querer viver, seja exatamente isso, uma rota de fuga para que possa ter uma vida memorável, ao menos para mim. Não entendo como consigo ver tudo tão claramente, e mesmo assim continuar nisso... "A consciência de saber estar-se deixando levar pelo inconsciente". É isso. Eu me conheço tão bem, que para ficar mais divertido, finjo que não me conheço.
E enquanto isso, continuo vendo fotos de Londres, viagens, pessoas, prédios. Realidades longes da minha, sonhando, sonhando... ...
Tudo tão longe...
16 de fev. de 2006
Autobiografia - Parte I
A pedidos do meu médico, iniciarei hoje a escrita da minha autobiografia. Na verdade, foram duas encomendas, esta, e também um diário. Deixo este para a próxima semana.
Comecemos.
Em dezembro de 1981, quase no Natal, eu nasci. Contam-me que a partir daí, não parei mais de chorar. E deve ser mesmo. Talvez seja essa uma das poucas características que me acompanham desde o nascimento: a sensibilidade, ou, para muitos, a chatice. Mas não importa. O que sei, é que chorava desesperadamente, e que meu pai gastou muitas de suas noites andando de um lado para outro comigo no colo, na nossa pequena casa de quarto e cozinha.
Minha mãe conta que, por volta dos 2, 3 anos de idade, tive um amigo imaginário. Um índio. Claro que não me lembro, porque minha memória começa por volta dos 3 anos completos, mas de tanto ela contar a velha história do dia em que não parava de rir porque o índio estava nú, acabei criando essa imagem, como se me lembrasse exatamente os detalhes, mas não.
Não me lembro de ter me mudado para Guarulhos, mas me lembro de, nos dias em que havia horário de verão, tomar banho e lavar meu cabelo, junto com minha mãe. Colocávamos, cada uma, uma camisa do meu pai, e o esperávamos chegar do trabalho, com o dia ainda claro. Ele sempre chegava e me beijava primeiro. Era uma pequena vitória (ele prefere a mim!). Coisas de criança.
Sempre fui muito apegada ao meu pai, muito. Lembro de ficar vendo-o consertar as coisas, lavar o carro (que eu estava sempre pronta para ajudar), fazer arroz com batata frita, tomar banho e fazer a barba. Tudo juntos. Lembro-me também de ter perguntado a ele inúmeras vezes "Qual a diferença entre um mim e mil e um", e também "Qual é a cor lá de dentro - me referindo ao corpo humano". Sim, eu era muito pentelha, muito! Quanto a minha mãe, lembro apenas que ela era muito nervosa, e que não me deixava ir à escola com os cabelos soltos. Lembro também que ela não respeitava que eu achava ridículo usar calça marrom com camiseta pink, e ainda, que não entendia que, se eu fosse à escola com dois rabos de cavalo, iriam me chamar de Chispita. Mas me lembro também que ela sempre via meus cadernos quando eu chegava da escola, e que, todos os dias, fazia batata frita com um palitinho de dente espetado para eu almoçar.
Lembro que fui uma criança muito sozinha. Nunca saí para a rua, nem ía à casa das amigas, nem ninguém ía em casa, com exceção de uma japonesinha que morava (e ainda mora) em frente à minha casa. Mas isso raramente. Lembro de brincar sozinha, sempre, de casinha, sempre! Tinha uma infinidade de panelinhas e utensílios de cozinha. Era muito bom, e muitas vezes fiz janta de mentira, enquanto minha mãe fazia janta de verdade. Gostava quando ela me dava alguns grãozinhos de arroz pra eu brincar...
Tinha muitos, muitos brinquedos, todos numa caixa enorme...
Bom, falando um pouco da minha relação com o restante da família, freqüentava muito a casa das minhas avós, a paterna, principalmente. Lá, tinha muitos tios, que adorava. lembro de chegar muito cedo, minha tia se arrumando pra sair, passando seu Gloss sabor menta, o mesmo que passou a deixar no alto do guarda-roupa, pra eu não poder mais usar... A casa da minha avó era mágica, porque tinha um quintal enorme, com árvores, redes e tudo mais. Ainda sinto o cheiro do refogado de arroz que ela fazia no final da tarde, e o cheiro do vento da noite, quando estava indo embora. Naquela casa, fui criança, e fui feliz.
A pedidos do meu médico, iniciarei hoje a escrita da minha autobiografia. Na verdade, foram duas encomendas, esta, e também um diário. Deixo este para a próxima semana.
Comecemos.
Em dezembro de 1981, quase no Natal, eu nasci. Contam-me que a partir daí, não parei mais de chorar. E deve ser mesmo. Talvez seja essa uma das poucas características que me acompanham desde o nascimento: a sensibilidade, ou, para muitos, a chatice. Mas não importa. O que sei, é que chorava desesperadamente, e que meu pai gastou muitas de suas noites andando de um lado para outro comigo no colo, na nossa pequena casa de quarto e cozinha.
Minha mãe conta que, por volta dos 2, 3 anos de idade, tive um amigo imaginário. Um índio. Claro que não me lembro, porque minha memória começa por volta dos 3 anos completos, mas de tanto ela contar a velha história do dia em que não parava de rir porque o índio estava nú, acabei criando essa imagem, como se me lembrasse exatamente os detalhes, mas não.
Não me lembro de ter me mudado para Guarulhos, mas me lembro de, nos dias em que havia horário de verão, tomar banho e lavar meu cabelo, junto com minha mãe. Colocávamos, cada uma, uma camisa do meu pai, e o esperávamos chegar do trabalho, com o dia ainda claro. Ele sempre chegava e me beijava primeiro. Era uma pequena vitória (ele prefere a mim!). Coisas de criança.
Sempre fui muito apegada ao meu pai, muito. Lembro de ficar vendo-o consertar as coisas, lavar o carro (que eu estava sempre pronta para ajudar), fazer arroz com batata frita, tomar banho e fazer a barba. Tudo juntos. Lembro-me também de ter perguntado a ele inúmeras vezes "Qual a diferença entre um mim e mil e um", e também "Qual é a cor lá de dentro - me referindo ao corpo humano". Sim, eu era muito pentelha, muito! Quanto a minha mãe, lembro apenas que ela era muito nervosa, e que não me deixava ir à escola com os cabelos soltos. Lembro também que ela não respeitava que eu achava ridículo usar calça marrom com camiseta pink, e ainda, que não entendia que, se eu fosse à escola com dois rabos de cavalo, iriam me chamar de Chispita. Mas me lembro também que ela sempre via meus cadernos quando eu chegava da escola, e que, todos os dias, fazia batata frita com um palitinho de dente espetado para eu almoçar.
Lembro que fui uma criança muito sozinha. Nunca saí para a rua, nem ía à casa das amigas, nem ninguém ía em casa, com exceção de uma japonesinha que morava (e ainda mora) em frente à minha casa. Mas isso raramente. Lembro de brincar sozinha, sempre, de casinha, sempre! Tinha uma infinidade de panelinhas e utensílios de cozinha. Era muito bom, e muitas vezes fiz janta de mentira, enquanto minha mãe fazia janta de verdade. Gostava quando ela me dava alguns grãozinhos de arroz pra eu brincar...
Tinha muitos, muitos brinquedos, todos numa caixa enorme...
Bom, falando um pouco da minha relação com o restante da família, freqüentava muito a casa das minhas avós, a paterna, principalmente. Lá, tinha muitos tios, que adorava. lembro de chegar muito cedo, minha tia se arrumando pra sair, passando seu Gloss sabor menta, o mesmo que passou a deixar no alto do guarda-roupa, pra eu não poder mais usar... A casa da minha avó era mágica, porque tinha um quintal enorme, com árvores, redes e tudo mais. Ainda sinto o cheiro do refogado de arroz que ela fazia no final da tarde, e o cheiro do vento da noite, quando estava indo embora. Naquela casa, fui criança, e fui feliz.
Assinar:
Postagens (Atom)
Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...
-
admiração por tudo o que você faz, e bem. encantamento pelas palavras e músicas traduzidas ao pé do ouvido. amo como nunca. já não há pesar.
-
... a metáfora do mergulho (a invenção de uma língua dentro da língua). Não mais o mergulho como busca da palavra justa, bela, precisa (o c...
-
Barqueiro deveria escrever o "Livro do Desassofrego". sôfrego adjetivo 1 . próprio do que come ou bebe com pressa...