15 de dez. de 2010

passo pelos ateliês da faap todos os dias. os armários são tingidos de tinta óleo azul-cinza-esverdeado. o cheiro que sai de dentro é dos móveis já antigos, o mesmo dos guarda-roupas e do piso de tacos da segunda casa da minha avó. o mesmo que eu sentia pelas manhãs ainda escuras quando chegava e deitava um pouco mais na cama ainda desarrumada. cheiro de casas que já não se fazem, porque os compensados e laminados não têm mais essa essência, nem terão. minha casa nova quando for velha não despertará essas notas. talvez outras. talvez nenhuma. todos os dias passo pelos ateliês da faap e sinto aquele cheiro que traz os cômodos maiores do que realmente eram. os móveis nem de longe se tocam. mas eram tão próximos! eles guardavam cumplicidades, das coisas que minha avó escondida bem no fundo, das manchas na penteadeira que eu escondia com os vidros de perfume. da janela um tanto baixa para as crianças. a gaveta só fechava quando bem reta. as roupas eram passadas sobre a cama. os carretéis de linha branca e preta no alto canto do guarda-roupa maior. hoje eu alcanço. para mostrar que nada é inatingível, quando se tem tempo.

Nenhum comentário:

Não trabalhar tem um efeito poderoso na trajetória de uma vida. Primeiro de liberdade, de merecimento, de possibilidades. Depois de paralisi...