(Dos rascunhos de 01/03)
Eu te carrego comigo, junto, grudado. Quem olha, não pode ver. Não dois. Vê um só. Te vê, também, e já não me vê. Porque eu te carrego comigo, tão junto, tão grudado, que separar já não dá. Quem quiser falar comigo terá que ouvir sua voz. Quem quiser me passear também terá que te levar. Imbricado, simbiótico. Como quando a gente desiste de tirar o rótulo do vidro. Como quando a gente deixa cair um pouco de gema na clara. Ou verte muito sal na água. Tão junto, inesgrudável. Só que diferente do rótulo, tão fino, diferente da gema, tão pequena, diferente do sal, tão faceiro, sua presença pesa. Pesa. Pesa. Como aquele colchão sem alça que não dá posição pra segurar. Como aqueles relacionamentos doentes que não dá posição pra ser feliz. E pesa. Pesa. Pesa.
Não tenho vidas paralelas, paralelo-me, e cada coisa a seu modo e a seu tempo tem a meu respeito uma visão. É certo que minhas plantas nutrem hoje por mim muito mais carinho do que sobrou em outro. E é certo também que eu guardo por elas exímia admiração. Estão sempre a sorrir e sempre, sempre à disposição para um toque sincero.
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