21 de ago. de 2006

Ontem, no metro, voltando da festa da Nossa Senhora Achiropita, havia um homem pálido, passando muito mal. Contrariando os funcionários do metro e alguns passageiros, não queria ser levado ao hospital. Ele mostrava os braços, cada um com uma mancha rocha, e dizia: "Olha o que fizeram comigo, olha! Eu prefiro morrer aqui dentro, do que voltar pra lá". Na saída, no terminal Tucuruvi, mal se agüentava, e foi ajudado por uma moça a subir as escadas.
Naquele momento, vendo o quão frágil somos, vendo o que nos espera daqui há 50 anos, vendo o que passam essas pessoas, pensei na vida: como super-valorizamos coisas tão pequenas, tão ridiculamente pequenas. Senti vergonha de me importar com o que as pessoas pensam, com as picuinhas, com os joguinhos de vaidade, com as infantilidades. Senti vergonha por ajudar a alimentar a falsidade, e por alguns instantes, resolvi ser eu mesma a partir de segunda-feira, poder dizer "vai se foder" quando eu bem tiver vontade, dar as costas, deixar falando, rir na cara, ridicularizar toda essa gente que se acha tanto, e que não é nada.
Hoje é segunda-feira, e eu não vou fazer nada disso, mas sim, algo mudou. E eu vou lutar para que permaneça, porque é algo em que eu acredito.

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